G1 • 08 de outubro de 2019
Na rede pública, 20,3% dos cursos tiveram conceito máximo. Exame avaliou 460 mil estudantes de bacharelado em ciências sociais e humanas e de tecnologia de gestão e negócio, apoio escolar, hospitalidade e lazer, produção cultural e design.
Na edição de 2018 do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade), só 3,3% dos cursos de faculdades privadas conseguiram atingir o conceito máximo. Segundo dados divulgados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) na manhã desta sexta-feira (4), de 7.276 cursos de instituições particulares, só 240 ficaram com o conceito 5. Já entre as instituições públicas, essa taxa sobe para 20,3%.
O cálculo considera as instituições particulares com ou sem fins lucrativos, que somam 7.259 cursos, e inclui 17 cursos de instituições especiais (que são estaduais ou municipais, mas não são gratuitas, e contaram com 807 estudantes no exame).
Já o grupo de instituições públicas inclui 1.244 cursos de universidades e institutos gratuitos das redes federal, estaduais e municipais.
Considerando todos os 8.520 cursos, menos de 6% deles tiveram conceito 5, percentual semelhante ao registrado nos cursos avaliados em 2017. Segundo o Inep, outros 301 cursos ficaram sem conceito no Enade 2018.
Rede privada é maioria
As instituições particulares têm a maior participação no ensino superior em número de matrículas e cursos. No Enade 2018, 84,8% dos participantes estavam matriculados em uma faculdade privada ou especial, e quase metade deles eram estudantes de direito ou administração.
Considerando os 392.243 participantes do Enade que estudavam em faculdades privadas ou especiais, só 37.461 (ou 9,5% do total) conseguiram tirar nota acima de 60 na edição de 2018 do Enade.
Já entre os 69.299 estudantes de universidades públicas (federais, estaduais ou municipais) que fizeram a prova, 16.138, ou 23,3% do total, tiraram nota a partir de 61.
O ministro da Educação, Abraham Weintraub, afirmou nesta sexta que os resultados podem estar relacionados ao perfil dos alunos das universidades – vestibulares em instituições públicas tendem a ser mais concorridos – e a uma possível "sabotagem" dos estudantes.
Para Weintraub, graduandos que acertam só 10% das questões não deveriam se formar. "Não deveria ter o diploma. (...) Eu acho que quem faz 0 a 20% foi sabotar", afirmou o ministro. Ele lembrou que hoje só há punição para quem não faz a prova, que acaba sofrendo atraso na colação. "A gente tem uma série de sugestões, tudo vai passar pelo Congresso", afirmou.
O presidente do Inep, Alexandre Ribeiro Lopes, disse que o governo pretende mudar o edital para poder divulgar o nome dos alunos que tiveram os melhores resultados, como forma de incentivo para que os estudantes se empenhem durante o exame.
Em nota encaminhada ao G1 na tarde desta sexta-feira (4), a Associação Brasileira de Mantenedoras de Ensino Superior (Abmes) afirmou que dois aspectos estão por trás da discrepância dos resultados: o perfil dos estudantes e a metodologia do Enade.
Segundo Celso Niskier, diretor-presidente da Abmes, os universitários matriculados nas instituições privadas são "em sua maioria oriundos das escolas públicas, que notoriamente apresentam um rendimento inferior ao aluno oriundo das escolas particulares". Ele também defendeu "um novo modelo de Enade, que considere as diferenças regionais e econômicas entre alunos, e que dê incentivo para que eles façam a prova com dedicação".
Secretariado e jornalismo tiveram maior média
Considerando a nota média geral de cada carreira, que varia de 0 a 100, o curso de tecnologia de secretariado executivo teve a pontuação mais alta (53,2%), seguido do curso de bacharelado em jornalismo (51,2%).
Já os cursos de administração, ciências contábeis e ciências econômicas ficaram com as notas médias mais baixas: 38,4%, 37,1% e 36,7%, respectivamente.
Qualidade EAD x presencial
Os dados divulgados pelo Inep nesta sexta-feira mostram que os cursos na modalidade de ensino a distância tiveram desempenho semelhante, em termos relativos, aos cursos presenciais no Enade 2018. Embora o número total de cursos seja bem menor (563 cursos a distância contra 7.957 presenciais), a porcentagem de distribuição na escala de conceitos foi quase a mesma.
No caso do conceito máximo, porém, os cursos EAD tiveram ligeira vantagem: 6% dos cursos a distância avaliados tiveram conceito 5, contra 5,8% dos cursos presenciais.
"Uma das coisas que chamou atenção é que não houve uma diferença significativa do resultado entre pessoas que fizeram curso a distância e as pessoas que fizeram presencial. Mostrando que essa preocupação com a queda de qualidade com o ensino a distância para as áreas do conhecimento que foram avaliadas a gente não percebe uma diferença significativa", afirmou o ministro da Educação, Abraham Weintraub.
Notícia publicada no site G1, em 04/10/2019, no endereço eletrônico: shorturl.at/lsxFS