Analistas ainda veem cenário "nebuloso" para empresas de educação, mas apontam: há oportunidades na Bolsa

infomoney • 27 de junho de 2019

O desempenho acima do Ibovespa para as ações do setor pode até trazer a sensação de que as educacionais no Brasil estão encontrando um caminho positivo após anos “nebulosos” com a as mudanças no Fies – mas não é isso que os analistas apontam. O ambiente para as elas segue bastante desafiador.

Mas, se por um lado, isso levaria a uma maior cautela para os investidores, também pode sinalizar as oportunidades que estão no radar. De qualquer forma, há um outro fator importante para identificar as oportunidades no mercado: o quanto é possível medir o impacto dos segmentos de atuação das companhias nas projeções de crescimento.

Em relatório de início de cobertura para o setor, o Credit Suisse destacou a Kroton e a Ser como recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado), enquanto a Estácio tem recomendação underperform (desempenho abaixo da média do mercado) e a Arco, brasileira que abriu seu capital na Nasdaq em Setembro de 2018, possui recomendação neutra. O preço-alvo para as ações da Kroton é de R$14, o que corresponde a um potencial de valorização de 31% frente o fechamento de terça, enquanto para a Ser o preço-alvo é de R$30 por ação (ou 26% de upside). Para a Estácio, o preço-alvo é de R$31 (ou upside de 3%). No ano, os ativos da Estácio já subiram 21%, Kroton avançou 20%, enquanto Ser subiu 70%, ante alta de 14% do Ibovespa.

A principio, apontam as analistas Marina Hernandes e Yasmin Brandão, essas recomendações poderiam indicar uma preferência por empresas mais voltadas à educação superior do que as de ensino fundamental e básico. Porém, não é exatamente esse o caso.

As oportunidades no segmento fundamental e básico são maiores, mas também são complexas, avaliam as analisas e, por isso, preferem as ações que não embutem no preço essas estimativas.

“É por este motivo que aqueles que já provaram saber como acessar essas oportunidades – como a Arco – já estão incorporando no preço um crescimento impressionante. Em nossa visão, isso faz com que ela seja negociada em com um prêmio, mesmo quando a concorrência vier”, avaliam.

Olhando de um modo geral para os grandes grupos de educação, os sistemas de ensino, os modelos híbridos e a oferta de cursos suplementares podem ser uma oportunidade adicional de crescimento, destacam as analistas. Mas há uma ponderação: “acreditamos que há espaço para crescimento do mercado. Porém, o cenário competitivo ainda parece desafiador”.

Com relação à educação superior especificamente, as analistas enxergam um mercado potencial de 18 milhões de pessoas, mas que pode se restringir a 5 milhões quando se faz uma análise sobre restrição de renda e as ofertas de cursos.

Cada vez mais para as companhias, o desafio será mostrar para as pessoas de maneira efetiva que o ganho adicional de fazer uma graduação superior realmente se paga. Além disso, também há uma dinâmica complexa do ensino a distância, cuja oferta cresceu muito nos últimos anos, enquanto a demanda pode não acompanhar o mesmo patamar de crescimento de oferta. Assim, elas possuem uma visão bastante cautelosa sobre o “boom” atual de EAD, que é visto como não sustentável.

Com esse cenário no radar, Mariana e Yasmin apontam que a Kroton apresenta o melhor “mix” entre as empresas do setor em termos de canibalização (que estão piores para Estácio e Ser) enquanto que, em temos de evasão, Ser e Estácio estão em posições melhores.

Em relação aos papéis da Kroton, o banco suíço se mostra mais otimista com as perspectivas a partir de 2020, com efeito mais baixo do menor repasse do Fies e com a abertura de novas unidades não representando um peso para a empresa.

No caso da Ser, o relatório destaca principalmente o valuation da companhia e aponta que, no curto prazo, a expansão da educação à distancia pode favorecer a ação.

Quando o assunto é Estácio, por outro lado, há um maior pessimismo do Credit quanto à retornada do crescimento para o segmento de educação à distancia no longo prazo, apesar do cenário mais positivo no curto prazo.

Fim do Bônus Demográfico

O bradesco BBI também apontou um outro fator que pode gerar maior preocupação com as ações do setor em um prazo mais longo. Trata-se do fim do bônus demográfico no Brasil em 2018. O bônus demográfico é a situação em que o numero de habitantes em idade ativa, entre 15 e 64 anos, supera o total de brasileiros considerados dependentes – idosos e crianças. O fim desse bônus pode impactar o setor de educação.

Porém, enquanto o longo prazo parece mais incerto, a equipe de análise avalia que há motivos para ficar mais otimista com o setor.

A expansão do ensino à distância, a melhoria da economia e a queda do desemprego para pode aumentar a base de alunos no curto e médio prazo.

“O Brasil deve levar mais tempo do que outros países para sentir o efeito negativo de uma ‘população mais velha’ em suas matriculas na graduação. Isto principalmente devido à maior penetração do ensino superior através de> 1) expansão dos cursos à distância, com tickets mais baixos, 2) expectativa de expansão do PIB de 0,9% em 2019 e 2,2% em 2020 e 3) perspectiva de redução do desemprego que mais do que compensam a demografia em declínio no curto a médio prazo”.

Contudo, para um prazo mais longo, o cenário pode se apontar como mais desafiador como ocorrido com outras economias pelo mundo, afirmam. O Bradesco BBI, ao contrário do Credit, possui recomendação equivalente à compra para Estácio e Ser, enquanto Kroton possui recomendação neutra.

Enquanto o Bradesco BBI vê a recomendação da economia já no ano que vem como um fator positivo para as companhias no setor, o Morgan Stanley acredita em uma recuperação a partir de 2021. Neste cenário, aa equipe de análise tem recomendação equivalente a compra para outras ações, como a Anima, que apresenta melhor posicionamento em um ciclo de alta da economia e menor dependência do Fies, enquanto a Ser é vista como pouco atrativa com um baixo crescimento do lucro por ação.

Enquanto o ambiente ainda para o setor parece nebuloso, os analistas olham para diferentes pontos para indicarem quais são os papéis mais atrativos. Enquanto o Credt Suisse destaca as recomendações com vase nas empresas como “elas estão agora”, o Bradesco BBI ressalta o ambiente de recuperação da economia, mais alerta para os efeitos do fim do bônus demográfico para o longo prazo, enquanto o Morgan se mostra mais pessimista e vê recuperação para a partir de 2021.

Assim, as preferencias se dividem entre a Estácio, a Kroton e a Ser. De qualquer forma, todos apontam: o ambiente para as educacionais ainda está longe de ser tranquilo e a estratégia que elas usarão para lidar com o ciclo econômico com recuperação mais lenta e o aumento da concorrência será essencial para guiar os papéis na bolsa.

Noticia publicada no site INFOMONEY, em 25/06/2019, no endereço eletrônico: https://www.infomoney.com.br/mercados/acoes-e-indices/noticia/8436747/analistas-ainda-veem-cenario-nebuloso-para-empresas-de-educacao-mas-apontam-ha-oportunidades-na-bolsa


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