MEC tem mais profissionais com experiência em economia do que em educação

NSC TOTAL • 01 de julho de 2019

Na atual gestão do Ministério da Educação (MEC) do governo Jair Bolsonaro, as nove pessoas mais importantes na definição de políticas educacionais não têm, em sua maioria, experiência nem conhecimento na área de políticas públicas de educação. As informações são do portal GaúchaZH, que analisou os currículos do ministro Abraham Weintraub e de seus oito secretários, obtidos por meio da Lei de Acesso à Informação (LAI).

Os nomes analisados, além do ministro, são: Antonio Paulo Vogel de Medeiros (secretário executivo), Rodrigo Toledo Cabral Cota (secretário executivo adjunto), Carlos Nadalim (secretário de alfabetização), Jânio Macedo (secretário de Educação Básica), Ariosto Culau (secretário de Educação Profissional e Tecnológica), Ataide Alves (secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior), Arnaldo Barbosa Júnior (secretário de Educação Superior) e Bernardo Goytacazes de Araujo (secretário de Modalidades Especializadas de Educação).

A análise mostra, em números, que eles não têm experiência relacionada aos cargos que ocupam: sete a cada dez empregos são no setor econômico e apenas dois a cada dez são relacionados à educação — o que inclui desde trabalhar como professor de Economia em universidades até dar aulas de Filosofia em escolas.

Quase todas as graduações são em Economia, Direito e Administração. As pós-graduações têm foco em Finanças, Administração e Negócios Internacionais. Eles trabalharam em bancos, corretoras de seguros ou em secretarias e ministérios na área econômica.

Ministro da Educação, Abraham Weintraub fez carreira em corretoras de seguros, bancos, como professor de Economia na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e, por último, na Casa Civil. Como professor universitário, nunca publicou nada sobre educação, segundo seu Currículo Lattes, plataforma de currículo acadêmico nacionalmente usada por pesquisadores. O último artigo, de 2016, é sobre inflação — pode ser acessado neste link.

Aluno de Olavo de Carvalho, Weintraub é um dos ministros da ala ideológica do governo de Bolsonaro, ao lado do ministro de Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles.

De todos os 108 empregos declarados em currículos pelo alto escalão do MEC, 23 estão relacionados à educação. No entanto, só cinco envolviam diretamente pensar em políticas públicas na área. Todos as cinco experiências profissionais estão no currículo de Ataides Alves, secretário de Regulação e Supervisão da Educação Superior, responsável por aprovar a criação de novas faculdades.

Alves é servidor de carreira no MEC: antes de atuar na gestão Bolsonaro, trabalhou no Conselho Nacional de Educação (CNE), no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) — responsável pelo Enem — e em duas secretarias do MEC na gestão de Fernando Haddad (PT) como ministro. O petista, ao ser eleito para a prefeitura de São Paulo, levou Alves para trabalhar na Secretaria Municipal de Educação de São Paulo.

Outros cargos de educação são de professor em escolas ou instituições de Ensino Superior nas áreas de Economia e Filosofia.

Forte da educação do alto escalão é em Economia e Negócios

O jornal também analisou os cursos de graduação e pós-graduação do ministro da Educação e de seus secretários. Em primeiro lugar, estão estudos na área de Economia e Negócios, seguidos de Filosofia, Direito e, em quarto lugar, Educação.

Só dois cursos são relacionados à educação. O primeiro é de Ataides Alves, servidor de carreira no MEC que fez uma especialização em educação profissional. O outro curso é do advogado Carlos Nadalim, secretário de Alfabetização que estudou mestrado em Educação na Universidade Estadual de Londrina (UEL), onde pesquisou sobre o ensino de filosofia para jovens — sem relação com políticas educacionais ou alfabetização, sua área de trabalho no MEC.

Antes do cargo em Brasília, Nadalim deu aulas em colégios e pequenas faculdades e era coordenador pedagógico da Escola Mundo Balão Mágico, em Londrina (PR), focada na primeira infância — ele não tem especialização em Pedagogia. Hoje, ele pretende mudar a política nacional de alfabetização no Brasil: a ideia é focar no método fônico e deixar de lado o método global.

Nomear um ministro com pouca experiência na educação não é exclusividade do governo Jair Bolsonaro. Essa é, inclusive, a tradição no Brasil. No entanto, gestões passadas se cercaram de secretários especialistas em políticas educacionais, afirma Juca Gil, professor da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).

— No Brasil, ministro da Educação é, via de regra, um líder político com capacidade de articulação. Foi o caso de Fernando Haddad (gestão Dilma), Paulo Renato Souza (gestão Fernando Henrique Cardoso) e Mendonça Filho (gestão Temer), A diferença é que eles e outros ministros traziam para o MEC pessoas com experiência em políticas educacionais, sem disputar com escolas e universidades, como esta gestão está fazendo. O MEC atual é anti-academia, o próprio Weintraub não publica nenhum artigo acadêmico há anos — afirma.

O que faziam os ministros da Educação antes de assumir o cargo — dados desde 2005

Abraham Weintraub (governo Bolsonaro)

Abril de 2019 em diante

Economista, professor na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), bancário e atuou em corretoras de seguros.

Ricardo Vélez Rodríguez (governo Bolsonaro)

Janeiro a abril de 2019

Filósofo, era professor da área na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF).

Rossieli Soares (governo Temer)

Abril a dezembro de 2018

Formado em Direito, foi secretário de Educação Básica no MEC, trabalhou na Secretaria de Educação da cidade de São Paulo e do Estado do Amazonas, atuou no Conselho Nacional de Educação (CNE) e foi vice-presidente do Conselho Nacional de Secretários Estaduais de Educação (Consed).

Mendonça Filho (governo Temer)

Maio de 2016 a abril de 2018

Formado em Administração, estudou gestão pública na Universidade de Harvard. Foi deputado federal por três mandatos (ajudou a articular o impeachment de Dilma Rousseff) e vice-governador de Pernambuco em duas gestões.

Aloizio Mercadante (governo Dilma)

Janeiro de 2012 a fevereiro de 2014

Outubro de 2015 a maio de 2016

Economista, mestre e doutor em Economia, foi ministro da Educação por duas vezes no governo Dilma. Antes, foi professor de Economia na PUC-SP, deputado federal por dois mandatos, senador, ministro da Ciência, Tecnologia e Inovação e da Casa Civil - sempre na gestão Dilma.

Renato Janine Ribeiro (governo Dilma)

Abril a outubro de 2015

Filósofo e sociólogo, doutor em Filosofia, professor de Ética e FIlosofia Política na Universidade de São Paulo (USP) desde 1993. Trabalhou na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), órgãos ligados ao MEC.

Cid Gomes (governo Dilma)

Janeiro a março de 2015

Engenheiro civil, foi governador do Ceará, deputado estadual e prefeito de Sobral (CE), onde criou o Programa da Alfabetização na Idade Certa, que inspirou a criação do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa, do governo federal.

Henrique Paim (governo Dilma)

Fevereiro de 2014 a janeiro de 2015

Economista, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), foi presidente do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), secretário-executivo do MEC, trabalhou no Banco de Desenvolvimento do Rio Grande do Sul (Badesul), foi secretário de Planejamento do governo do RS e coordenou as relações internacionais de Porto Alegre.

Fernando Haddad (governo Lula e Dilma)

Julho de 2005 a janeiro de 2012

Advogado, mestre em Direito e em Economia, doutor em Filosofia e professor de Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP), trabalhou como analista de investimento no Unibanco, subsecretário de Finanças da Prefeitura de São Paulo e, antes de ser ministro, secretário-executivo do MEC.

Pesquisadora na área de políticas públicas educacionais, a professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Márcia Aparecida Jacomini salienta que "é importante ter claro que cada governo forma suas equipes para conduzir as políticas dos ministérios, de acordo com o alinhamento político". Ao escolher nomes alinhados ao Executivo, o presidente pode nomear pessoas não técnicas para um cargo. Feita a ressalva, ela critica a prática:

— A composição de uma equipe sem formação e experiência na área educacional compromete a realização de políticas. De certa forma, a educação tem sido uma área de intensa disputa ideológica, o que tem prejudicado a continuidade de políticas de Estado - afirma.

Noticia publicada no site NSC TOTAL, em 30/06/2019, no endereço eletrônico: https://www.nsctotal.com.br/noticias/mec-tem-mais-profissionais-com-experiencia-em-economia-do-que-em-educacao


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