ESCOLAWEB • 06 de novembro de 2019
Precisamos falar sobre gestão democrática e participativa
Já imaginou uma parceria entre os gestores e a comunidade escolar, na qual todos possam se mobilizar e participar das tomadas de decisões da escola? Pois não precisa só imaginar: esse é o conceito fundamental de gestão democrática e participativa!
Essa maneira de encarar a escola traz muitos benefícios para alunos, docentes e gestores. Por meio dela, é possível melhorar a gestão financeira da instituição, deixar os alunos mais engajados e gerar uma sociedade mais comprometida com a cidadania.
O que é a gestão democrática e participativa?
Na gestão participativa, a escola é vista como um espaço coletivo. Isso significa que todos devem se comprometer e ser responsáveis pelas decisões tomadas pela instituição sobre diversos setores do sistema escolar.
Nesse modelo de gestão, é preciso ouvir a opinião de todos os atores envolvidos na organização escolar:
diretores;
coordenadores;
professores;
pais;
alunos;
comunidade.
Para ser classificada como gestão participativa, é preciso que alguns princípios estejam presentes no modelo de gerenciamento escolar. O primeiro é a descentralização: nesse modelo, todas as decisões, tanto administrativas quanto pedagógicas, são tomadas de maneira descentralizada.
O próximo princípio é a participação, que permite a todos os envolvidos com a instituição participar de suas decisões. Outro princípio importante nesse modelo é a transparência, em que qualquer decisão tomada pela escola seja do conhecimento de todos.
Qual é a evolução da gestão democrática e participativa na escola?
A democracia no Brasil é relativamente nova. Entretanto, a ideia de educação democrática é um pouco mais antiga: a primeira discussão sobre o assunto ocorreu no início do século XX, durante o governo de Getúlio Vargas.
Durante a ditadura militar, o assunto ficou esquecido por um bom tempo — sendo retomado apenas após o fim do período. A proposta tem como objetivo uma educação plural, que permita a inclusão e participação de todos.
Com base nesse pensamento, foi criado um artigo na Constituição Federal de 1988 que garante a educação a todos os cidadãos. Atualmente, muitas escolas trabalham utilizando a gestão participativa, que conta com a participação de toda a comunidade escolar.
Quais são as vantagens desse tipo de gestão?
O modelo de gestão participativa traz muitos benefícios para a comunidade escolar como um todo. Os alunos, por exemplo, ficam mais comprometidos com a escola. Por haver maior engajamento com a instituição, seu desempenho também aumenta.
Para a instituição, há um ganho significativo em sua qualidade de ensino, pois, com a colaboração de todos, é muito mais fácil adequar as necessidades da escola às dos alunos e professores. Toda a comunidade também ganha, uma vez que a gestão participativa tenha como objetivo o bem-estar dos envolvidos.
Para os alunos, a gestão escolar participativa auxilia no processo de cobrança de profissionalismo dos professores e gestores. Ela também permite que a grade curricular esteja sempre atualizada e sintonizada com o contexto socioeconômico da comunidade, além de motivar os alunos a se engajarem mais, o que contribui para garantir um melhor desempenho.
Além disso, os alunos passam a ter uma visão mais abrangente sobre a vivência em comunidade e a importância de estar atento aos problemas sociais.
Para os gestores, a gestão escolar participativa facilita a tomada de decisões, pois ajuda a compartilhar responsabilidades. Além disso, ela evita a centralização de tarefas, o que diminui o isolamento administrativo do gestor e melhora suas atividades junto à equipe.
A gestão escolar participativa ainda traz benefícios para a sociedade, pois, por causa de sua estrutura democrática, ajuda a convergir objetivos comuns à escola e à comunidade. Também ajuda a dar voz às pessoas que antes eram ignoradas e, com isso, fortalece a cidadania.
Quais são os desafios da gestão escolar participativa?
Por ser uma questão bastante complexa, a gestão participativa encontra dificuldades de ser implementada pela comunidade escolar. Na verdade, alunos, professores, gestores e pais contribuem de alguma forma para deixar a escola menos democrática.
A gestão educacional no Brasil sempre foi feita por meio do modelo centralizado, no qual as decisões são tomadas por poucas pessoas — ou seja, apenas diretores e coordenadores opinavam sobre questões importantes referentes à educação.
Nesse modelo, professores, alunos e pais tinham suas tarefas bem definidas, ou seja, ensinar, aprender e acompanhar a evolução do aluno, respectivamente.
Cada ator da comunidade escolar sofre um tipo de desafio na gestão participativa. O corpo diretivo da escola tem o desafio de aprender a escutar outras opiniões, entender as críticas e, mais que isso, aceitar que as decisões sejam tomadas coletivamente.
O maior desafio com relação aos alunos é fazer com que eles percebam que precisam deixar o papel de estudantes e participar de questões importantes na escola, ou seja, entender que sua opinião fará diferença em diversas atividades na instituição.
Já para os pais, o grande desafio é levá-los à escola para participar de reuniões e debates. É preciso que eles se conscientizem da importância de suas opiniões para que todo o processo funcione da maneira correta.
A seguir, elencamos alguns pontos principais que dificultam o avanço desse processo.
Modelo de gestão centralizada
Talvez o maior desafio para a implementação da gestão escolar participativa esteja na direção da instituição. Tarefas muito centralizadas nas mãos dos gestores da escola costumam sustentar uma postura autoritária. Isso dificulta a iniciativa democrática.
Visão deturpada sobre o papel da escola
Para muitos estudantes, a escola é um lugar para aprender uma matéria, fazer provas e passar de ano. Parece exagerada, mas essa visão sobre o papel da instituição é bastante comum. Muitos não compreendem que a instituição possa ser um lugar libertador e fomentador da democracia.
Estrutura de ensino autoritária
O modo de ensino que preza pela passividade do aluno é um problema para a gestão escolar participativa, pois ela não apoia essa hierarquia em que o professor é o detentor do conhecimento e o aluno apenas um ouvinte desse processo. Isso não abre espaço para participação.
Baixa participação dos pais na vida escolar
Reuniões de pais vazias, estudantes que chegam sem o dever de casa feito. Esses são alguns dos sinais da baixa participação dos pais no processo escolar. Uma vez que eles nem se preocupam com o desempenho dos seus filhos, como vão pensar em contribuições para a vida coletiva da escola? Fica complicado encontrar uma atitude positiva por conta de pais como esses.
Como implementar, na prática, a gestão escolar participativa?
Com todas as dificuldades levantadas, pode parecer utopia implementar a gestão escolar participativa. No entanto, existem maneiras práticas de obter esse resultado, desde que seja possível contar com o apoio de todos.
Confira, a seguir, algumas recomendações.
Ofereça uma gestão colaborativa e transparente
O primeiro passo para implementar a gestão escolar participativa é fazer com que os gestores abdiquem da postura de chefes e a substituam pela de líderes. É necessário assumir um perfil desejável e abrir mão do poder e do autoritarismo. Uma gestão democrática se dá pela colaboração.
Nesse sentido, os gestores devem melhorar a sua capacidade de ouvir e aceitar sugestões e críticas. Esse comportamento receptivo permite que a comunidade escolar se sinta mais à vontade para se reunir com a direção ou coordenação e expor suas ideias.
Também é interessante que os gestores deleguem mais as tarefas. Em vez de centrarem tudo em seus ombros, devem estimular a participação da equipe, valorizar o potencial de cada um e repartir responsabilidades.
Ainda sob o ponto de vista prático, a gestão da escola deve fortalecer suas instituições internas, tais como os Grêmios Estudantis e os conselhos e assembleias pedagógicas, que devem ter mais poder para influenciar as decisões da instituição.
Fomente a participação familiar na escola
Seja por trabalho ou falta de tempo, muitos pais ou responsáveis dizem que não podem participar mais de atividades da vida escolar. Para mudar esse cenário, a escola pode realizar campanhas para a participação dos responsáveis: com a distribuição de materiais impressos ou mesmo visitas domiciliares, os pais se sensibilizam sobre a importância de se engajarem nas decisões da instituição.
Também pode-se marcar reuniões e encontros em horários alternativos, assim, aqueles pais que trabalham durante todo dia terão condições de participar de reuniões marcadas à noite, por exemplo.
Trate os alunos como protagonistas
A postura de que somente a direção da escola e os professores podem decidir sobre tudo é uma pedra no sapato para a gestão escolar participativa. É necessário que os alunos também tenham autonomia no processo.
Nesse sentido, os alunos devem ser estimulados a participarem de reuniões e exporem suas opiniões. Também é interessante criar desafios para que eles se sintam mais motivados a agir. Por exemplo: pode-se dar a eles a responsabilidade de produzir eventos na escola ou campanhas que sejam de seu interesse.
Assim, um modelo de cidadania e participação é construído. Como resultado, teremos jovens mais interessados em defender seus objetivos e se tornarem adultos mais responsáveis.
Para ajudar no processo de gerenciamento escolar, é interessante identificar os gargalos existentes na escola: fazer um mapeamento dos processos e um levantamento de erros e falhas ajuda a eliminar o que emperra a gestão democrática.
Com uma gestão democrática e participativa, o desempenho dos alunos tende a melhorar cada vez mais, pois eles estarão cada vez mais envolvidos com a escola. Por permitir a participação de toda a comunidade nesse modelo, inúmeros benefícios serão trazidos a todo o processo educacional.
O que você acha do modelo de gestão participativa? Deixe um comentário no post e compartilhe o seu pensamento conosco!
Artigo publicado no ESCOLAWEB, em 04/11/2019, no endereço eletrônico https://escolaweb.com.br/gestao-escolar/precisamos-falar-sobre-gestao-escolar-participativa/