Salário de professor no Brasil é "horrível", diz ex-presidente do Inep

EDUCAÇÃO UOL • 26 de junho de 2019

O salário do professor brasileiro da rede pública é "horrível", define umas das maiores especialistas em educação no país. "É muito importante o salário, e ele é horrível", diz a pesquisadora Maria Inês Fini, em entrevista ao UOL. Ela é ex-presidente do Inep (Instituto Nacional de Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que organiza o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio).

Maria Inês comentou o atual piso salarial do professor, de R$ 2.557 por mês, e levantamento da OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômica) divulgado na terça-feira (19) que mostra os rendimentos do magistério no Brasil nas últimas posições entre os países pesquisados (veja abaixo). A pesquisa Talis da OCDE, da qual Maria Inês participou, analisa as condições de ensino e do magistério no mundo.

"Os países devem fazer o magistério mais atrativo financeira e intelectualmente", destaca comunicado da pesquisa. O objetivo deve ser atender à "crescente demanda mundial por professores de alta qualidade". "Atrair os melhores e mais brilhantes para a profissão será essencial para garantir que os jovens receberão as habilidades que necessitarão para serem bem-sucedidos no mundo do trabalho do amanhã", defende a organização que concluiu o levantamento em 2018 e o divulgou nesta semana.

Salário baixo não é único problema no Brasil

Segundo Maria Inês Fini, além do salário, há outros dois problemas básicos na educação brasileira: as condições de trabalho e a formação dos professores.

“São jornadas muito pesadas de trabalho, as condições de trabalho são péssimas”

"O professor em São Paulo tem três empregos para ter um salário digno. Ele não pode se dedicar a uma única escola, ao mesmo grupo de alunos, convive menos com a família. Com isso, o rendimento dele vai caindo."

Maria Inês foi uma das fundadoras da Faculdade de Educação da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas). Ela entende que a formação de professores tem que ser mais pragmática e menos teórica. Do contrário, ela diz que se acabam formando "ministros da Educação" em vez de professores.

"A formação inicial dos professores é absurda. A gente vivia formando 60 ministros da Educação por ano, e nenhum professor, porque nunca ensina para o professor o que ele tem que ensinar para ao aluno", critica. "É uma grande discussão teórica, grande teoria revolucionária, mas muito pouco instrumental."

A assessoria da OCDE enviou ao UOL um documento complementar à pesquisa que exibe uma relação de salários com 48 países estudados pela organização. Os valores dos rendimentos são analisados conforme o nível de ensino --da educação infantil ao ensino médio-- e a experiência do profissional.

No ensino infantil, o Brasil está na 30ª posição entre 33 países em que a organização conseguiu coletar informações sobre salários do magistério. Nos ensinos fundamental e médio, os brasileiros ocupam a última posição entre os 40 países em que há dados salariais.

Salário de professor pelo mundo

Valores do ensino médio*, em US$ por ano**

País --- Salário inicial --- Salário no topo da carreira

1º. Luxemburgo --- US$ 79.551 --- US$ 138.279

2º. Suíça --- US$ 71.249 --- US$ 109.240

3º. Alemanha --- US$ 63.866 --- US$ 92.386

Média da OCDE --- US$ 34.943 --- US$ 59.639

Média da Europa --- US$ 33.871 --- US$ 58.736

40º. Brasil --- US$ 13.971*** --- sem informação

No Brasil, os salários dos ensinos infantil, fundamental e médio são os mesmos.

**A OCDE fez a conversão em dólar considerando o poder de compra de cada país.

***O atual piso nacional do magistério no Brasil é de R$ 2.557 por mês.

Fontes: OCDE e Ministério da Educação. Elaboração: UOL

O levantamento da OCDE aponta que, há dois anos, professores de escolas públicas do país ganhavam, em média, US$ 13,9 mil por ano --a organização considerou o poder de compra de cada país no estudo. De acordo com o Inep, o valor foi obtido pela OCDE a partir do envio pelo instituto do valor do piso nacional da educação em vigor em 2017 (R$ 2.298,80). O Inep pondera, contudo, que o valor apurado pela OCDE em 2017 é maior do que o atual em razão de variações cambiais.

Os números da OCDE indicariam que os rendimentos do magistério no Brasil não crescem ao longo da carreira, como ocorre em outros países. Mas a assessoria do Inep diz que não há informações consolidadas e centralizadas sobre quanto os profissionais recebem nos diversos estados e prefeituras à medida que ganham experiência. O próprio levantamento da OCDE aponta disparidades regionais de remuneração no país.

Ainda assim, os resultados obtidos no Brasil mostram que o Brasil está bem atrás dos países pesquisados. Neles, a média salarial dos professores iniciantes é duas vezes e meia maior. Nos países da OCDE, o rendimento médio inicial dos professores foi de mais de US$ 30 mil por ano para a educação infantil. Para os do ensino médio, quase US$ 35 mil anuais em relação aos profissionais iniciantes.

Luxemburgo, pequeno país da Europa, lidera a lista de melhores salários. Um professor iniciante da educação infantil recebe US$ 70 mil por ano, o equivalente a R$ 20.788 por mês, considerando-se a cotação do dólar de hoje.

Com 15 anos de carreira, um docente dos primeiros anos do ensino fundamental ganha US$ 109 mil anuais, ou R$ 32.498 por mês.

No ensino médio ou nas séries finais do ensino fundamental, um professor iniciante em Luxemburgo recebe mais de US$ 79 mil por ano, o equivalente a R$ 23 mil por mês. Se estiver com alta experiência e qualificação, ou seja, no topo da carreira, receberá US$ 138 mil por ano, ou R$ 40 mil por mês.

Noticia publicada no site EDUCAÇÃO UOL, em 19/06/2019, no endereço eletrônico: https://educacao.uol.com.br/noticias/2019/06/22/salario-de-professor-no-brasil-e-horrivel-diz-ex-presidente-do-inep.htm


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