Como a pesquisa científica transformou a educação ao longo do tempo?

FOLHA UOL • 18 de novembro de 2019

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Em geral, quando lemos as palavras “ciência” e “educação” numa mesma frase, acreditamos se tratar de educação em ciências, o que é sempre muito importante, em especial nos dias atuais.

Os conhecimentos gerados nos laboratórios de pesquisa chegam mais cedo ou mais tarde aos livros didáticos e às salas de aula. Ou seja, a pesquisa científica gera conteúdos que influenciam o que aprendemos na escola.

Porém, uma outra maneira de se considerar o impacto da ciência na educação seria o de pensarmos em como a ciência influenciou o modo com que aprendemos ou somos ensinados. E a resposta é: ainda muito pouco. Ou pelo menos não em grande escala e ao alcance de todos.

Há iniciativas pontuais de algumas áreas de pesquisa, mas nada sistemático, como existe na saúde. A comparação com a saúde é importante porque, nesse âmbito, qualquer novo medicamento ou procedimento para ser aprovado para todos tem que ter prova de que é seguro e eficaz.

A compreensão de como se dá o processo de aprendizagem, e consequentemente, de como melhorá-lo, não cabe no domínio de apenas um campo do saber. Entender esse processo, que é complexo e multifatorial, necessita de muitos olhares, abordagens e metodologias de pesquisa e avaliação de impacto.

Com essa compreensão, apenas no final da década de 2000, cientistas americanos propuseram uma área da ciência dedicada à educação que fosse o foco de convergência de muitas outras, como neurociência, sociologia, psicologia, fonoaudiologia, computação, entre outras: "Science of learning" (Ciência da aprendizagem, em português).

Pode-se dizer que a iniciativa do município de Sobral, que se estendeu para todo estado do Ceará, o Programa Alfabetização na Idade Certa, tem forte amparo em diversas áreas da ciência incluindo a economia e a neurociência. Nesse programa, considera-se que as crianças devem estar alfabetizadas até o segundo ano, mobilizando para isso mais recursos e estímulos aos professores alfabetizadores de sucesso, que estão em formação continuada.

Um investimento de Estado e não de governo, que demorou mais de uma década para apresentar resultados, mas que valeu a pena: Sobral tem um IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 9,1, muito acima da média nacional (5,8).

Um outro exemplo mais recente foi a mudança do horário de entrada dos alunos nas escolas do estado da Califórnia, nos Estados Unidos. Agora as aulas não podem começar antes das 8:30 da manhã, para que os alunos tenham mais horas de sono. Pesquisas da área de cronobiologia mostram que os adolescentes têm uma necessidade de sono aumentada, e, ao mesmo tempo, tendem a dormir tarde.

Consequentemente, ao serem obrigados a acordar cedo para ir à escola, têm de fato privação de sono, que prejudica a consolidação de novas memórias, ou seja, o aprendizado. Estima-se que essa mudança de horário das aulas tenha um impacto não somente acadêmico, mas também diminuindo o uso de drogas e a incidência de doenças mentais, que são mais frequentes entre jovens privados de sono.

Esses são alguns exemplos para ilustrar como a pesquisa na área recém-inaugurada de Ciência da Aprendizagem pode impactar a educação. No Brasil, a Rede Nacional de Ciência para Educação busca congregar pesquisadores de várias áreas pertinentes à educação e difundir essas pesquisas visando provocar mudanças em políticas públicas baseadas em evidências científicas.

Também está entre as nossas missões fomentar pesquisas científicas que impactem na sala de aula. O mundo está apenas despertando para esse caminho: é o momento estratégico de o Brasil entrar na corrida. Para ganhar.

Notícia publicda no site FOLHA UOL, em 17/11/2019, no endereço eletrônico: https://www1.folha.uol.com.br/seminariosfolha/2019/11/como-a-pesquisa-cientifica-transformou-a-educacao-ao-longo-do-tempo.shtml


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