GLOBO • 26 de maio de 2020
Com taxas de inadimplência e evasão em alta, e projetos de lei que propõem redução do valor das mensalidades, 30% das instituições do ensino superior brasileiro podem fechar as portas até o final do ano. A projeção é do Semesp, entidade representante das mantenedoras do ensino superior no país, que apresentou nesta segunda-feira estudo sobre o impacto econômico da pandemia de Covid-19.
Segundo o Semesp, a taxa de inadimplência no ensino superior privado fechou o mês de abril com valor 72,4% maior do que o do mesmo período de 2019. Ficou em 26,3% no atual cenário de coronavírus, contra 15,3% em abril do ano passado, somando cursos presenciais e EAD.
— Mesmo os cursos EAD, que já eram à distância antes da pandemia e com mensalidades mais baixas, tiveram um crescimento importante da inadimplência — diz Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp.
Separada por modalidade de ensino, a variação na taxa de inadimplência de abril de 2019 a abril deste ano chegou a 50% mais no EAD e 75,8% no ensino presencial. A pesquisa foi feita com 146 instituições de ensino superior privadas de pequeno, médio e grande porte no país.
— Assim como todos os setores, o de Ensino Superior foi bastante impactado — afirma Capelato.— Sem políticas claras de sustentação do ensino superior privado, vamos retroceder muitos anos. E o preço disso para o país será alto a longo prazo.
As instituições de grande porte, que reúnem mais de sete mil alunos, foram as que mais sofreram com a inadimplência.
A taxa de evasão, mostra o estudo do Semesp, também começa a chamar a atenção, principalmente nas instituições de pequeno e médio porte.
O número de alunos que desistiram ou trancaram matrículas no mês de abril aumentou 32,5% entre os anos 2019 e 2020. Segundo a pesquisa, o crescimento foi motivado pela desistência dos alunos matriculados em cursos presenciais, em sua maioria, de ingressantes, ou seja, calouros do primeiro semestre deste ano. Já a taxa de evasão em cursos EAD se manteve praticamente estável.
— Apesar da retomada de ingressantes e da expectativa do início do ano, vemos que o grosso da evasão se dá com esses alunos novos. Eles entraram, se matricularam, as aulas começaram em março, e depois de 15 a 20 dias foram suspensas no modelo presencial e passaram a aulas remotas. Foi quando começou também a deterioração das rendas desses alunos e suas famílias, com perda de empregos, suspensão de contrato de trabalho — explica Capelato.
Ele ressalta, porém, que o efeito da crise ainda se nota mais na inadimplência:
— As pessoas ainda querem continuar estudando, e fazendo curso superior. Mas o dinheiro às vezes não permite que paguem a mensalidade.
Notícia publicada no site GLOBO, em 25/05/2020, no endereço eletrônico: https://oglobo.globo.com/sociedade/com-inadimplencia-evasao-em-alta-na-pandemia-30-das-instituicoes-de-ensino-superior-podem-fechar-em-2020-24444843