Sem internet, estudantes de São Paulo e Ceará recebem conteúdo pelo rádio durante a pandemia

G1 • 10 de julho de 2020

Escola proporciona aulas através de rádio para estudantes sem ...

Para tentar minimizar a defasagem no aprendizado de alunos que não têm acesso à internet, escolas públicas do interior de São Paulo e do Ceará decidiram estabelecer parcerias com rádios locais para disseminar o conteúdo das disciplinas enquanto as aulas presenciais estiverem suspensas por causa da pandemia de Covid-19.

Em Pindamonhangaba, cidade paulista com 170 mil habitantes, a Diretoria Regional de Ensino da rede estadual fez parcerias com duas rádios para transmitir inserções curtas, de cinco minutos, de caráter pedagógico e informativo.

Nas inserções pedagógicas, os alunos têm acesso ao conteúdo das disciplinas propriamente dito. São explicações do que ler e como realizar as tarefas de casa. Já nas inserções informativas, os estudantes recebem orientações sobre o novo coronavírus e também são avisados para retirar o material pedagógico nas unidades a cada 15 dias.

Também há explicações sobre como usar a Central de Mídias da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, que funciona por aplicativo. No programa, os downloads podem ser feitos sem consumo do pacote de dados do estudante ou do familiar, basta ter acesso ao sinal de celular.

A rede estadual da região de Pindamonhangaba tem 18 mil estudantes. Segundo o diretor regional, Luís Gustavo Martins de Souza, mais de dez mil alunos acompanham as atividades pelo rádio. Ele diz que em algumas escolas a adesão ultrapassa os 90%.

“Nós temos alunos sem sinal de celular e sem sinal de televisão, então o canal que ele ouve hoje é o rádio. Ele atinge a todos os perfis, mas o que mais se beneficia é o aluno de perfil mais vulnerável e que mora em uma residência bem mais afastada, pois nós temos aqui no município escolas em zonas rurais, na região da Serra da Mantiqueira, que é uma região montanhosa, onde o sinal dificulta muito, inclusive o sinal de TV digital também é muito prejudicado. Então a rádio é o único canal de comunicação da unidade escolar com esse aluno”, disse Souza.

Ceará

Outra experiência está sendo realizada na cidade de Mulungú, que possui 11 mil habitantes e fica no interior do Ceará. A Escola Municipal Professor Milton Façanha Abreu adotou o uso do rádio para chegar a 109 alunos que moram na Zona Rural e não têm acesso à internet.

A escola firmou uma parceria com a rádio local para veicular, sem custos, às terças, quartas e quintas, durante uma hora por dia, o conteúdo das disciplinas de Ciências Humanas, Linguagens e Códigos, Ciências da Natureza e Matemática.

As atividades são planejadas por meio de videoconferência entre gestores pedagógicos da escola, representantes das salas e integrantes do Grêmio Estudantil. A estudante Evelyn Alves, de 16 anos, estava se preparando para o Enem quando a pandemia suspendeu as aulas. Sem internet, a única alternativa foi o rádio.

“A rádio-aula sempre acontece no período da tarde, né? Aí quando tá pertinho da hora, a gente já liga o rádio e começa a escutar. É bastante interessante. É um meio criativo de passar. E as aulas são muito boas. Os professores fazem, dão o melhor de si para transmitir da melhor forma. É incrível."

Brasileiros sem internet

Segundo dados da última PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), feita em 2019 pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 17% da população brasileira não têm acesso à internet. Em São Paulo, o percentual é de 9%. No Ceará, sobe para 20%.

O principal motivo, para 32% dos entrevistados, é o custo elevado do acesso, seguido da falta de interesse (28%), falta de conhecimento sobre como utilizar a web (17%), falta de disponibilidade da rede na área do domicílio (11%) e o custo dos equipamentos (6%).

Dados do Cetic (Centro Regional de Estudos para o Desenvolvimento da Informação) mostram que, entre os alunos de escolas públicas urbanas, 35% tem acesso a computador portátil, 31% a computador de mesa, 26% a um tablet e 39% a nenhum desses equipamentos. Entre os alunos da rede privada, o percentual dos que não possuem nenhum equipamento com internet cai para 9%.


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