Cortes na educação sinalizam retrocesso

DCI • 11 de setembro de 2019

Ainda que o Brasil destine 4,2% do Produto Interno Bruto (PIB) para educação – taxa superior à média mundial – o investimento público por aluno fica bem abaixo dos países desenvolvidos. Com os cortes promovidos pelo governo no setor, especialistas falam em retrocesso nos avanços conquistados desde os anos 1990.

Um relatório divulgado ontem (10) pela Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta justamente esse paradoxo: ao mesmo tempo em que o País destina 4,2% do PIB para a educação – enquanto a média mundial é de 3,2% – a destinação de recursos por aluno – nos níveis básico, fundamental, médio e técnico – deixa muito a desejar (veja mais no gráfico).

De acordo com Camila de Moraes, analista de educação da OCDE, o baixo custo por aluno no Brasil está relacionado aos baixos salários pagos a estes profissionais no país.

O estudo aponta que o salário médio dos professores no Brasil é menor do que na maioria dos países da OCDE, e que também é ao menos 13% menor do que o salário médio dos trabalhadores brasileiros com ensino superior. Enquanto um professor do ensino fundamental ganha cerca de US$ 22,5 mil por ano, a média dos 36 países analisados pela OCDE pagam cerca de US$ 36,2 mil em doze meses.

Ensino superior

No ensino superior a situação também é problemática. Só 18% dos adultos possuem ensino superior completo, enquanto a média mundial fica em 39%. Vale ressaltar, no entanto, que na última década o Brasil passou de 11% de formados na faculdade para os atuais 21% entre os jovens de 25 a 34 anos. “Fizemos avanços importantes na última década, com uma política forte de inclusão, mas toda sinalização que temos agora é de endurecimento dessas políticas tirando boa parte dos alunos de renda inferior da corrida pelo diploma”, avalia o gestor de políticas públicas e professor da Universidade Federal do ABC, Sérgio Santanna.

Além da redução dos recursos públicos para financiamento dos cursos de graduação, outra preocupação diz respeito ao financiamento de pesquisa. Recentes cortes nas bolsas do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (Cnpq) e Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) resultaram milhares de bolsas interrompidas.

Segundo a OCDE só 0,8% da população brasileira tem mestrado, contra 14,3% na média dos países pesquisados. Quando avaliado o doutorado o Brasil tem 0,1% ao passo que a média é de 0,8%.

“Ainda que nosso volume de pesquisadores seja baixo, o nível de atividade é extremamente relevante para o País. Grande parte dos avanços e entendimentos que o Brasil tem sobre a vírus como a Zika e os desdobramentos da microcefalia estão associados à pesquisadoras financiadas pelo governo. Destinar dinheiro para pesquisa não é gasto, é investimento”, completa o acadêmico.

Notícia publicada no site DCI, em 11/09/2019, no endereço eletrônico: https://bit.ly/2lLULst


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