G1 • 30 de março de 2020
Estudantes de medicina do Distrito Federal pedem a revogação da Portaria 492/2020 do Ministério da Saúde, assinada na última segunda-feira (23), e que institui o programa "Brasil Conta Comigo". A ação é voltada para que alunos de cursos da área de saúde cumpram "estágio curricular obrigatório", em caráter "excepcional e temporário", ajudando no combate à covid-19
A participação no programa do governo garante 10% de pontuação adicional nos processos de seleção para residência médica. Os estudantes dizem que o benefício quebra a isonomia nas provas.
A Direção Executiva Nacional dos Estudantes de Medicina (Denem), que representa os alunos, explica que pediu ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Educação a revogação da portaria. De acordo com um dos coordenadores regionais do Centro Oeste Caio Alexandre Mendes Moreira, apesar das vantagens oferecidas pelo governo serem benéficas, elas atenderão apenas parte dos estudantes.
"Uma parcela dos alunos ficará de fora e será prejudicada nas concorridas provas de residência."
Caio Alexandre diz ainda que a Denem teme pela segurança de quem for trabalhar. "Não temos garantia real de equipamentos de proteção individual, já que nos hospitais, às vezes, os próprios médicos não têm acesso a esses EPI's", afirma.
A Denem contesta a isonomia nas provas de residência ao elencar os grupos que não teriam condições de participar do programa do governo federal e atender pacientes durante a pandemia de coronavírus. São eles:
Segundo a coordenadora-geral da Denem Eduarda Matoso, a portaria nº 492/2020 do Ministério da Saúde "não torna obrigatória a participação na ação 'Brasil Conta Comigo', mas cria uma situação de quebra de isonomia ao oferecer uma facilidade de quantidade inédita (adicional de 10% no processo de seleção para programas de residência), sem considerar que circunstâncias alheias à vontade impedem a participação de boa parte dos alunos".
O Distrito Federal conta com seis escolas de medicina. A cada ano, segundo a Secretaria de Saúde, são aprovados 536 novos alunos nos cursos.
De acordo com a pasta, os cursos da Escola Superior de Ciências da Saúde (ESCS) e da Fundação de Ensino e Pesquisa em Ciências da Saúde (Fepecs) vão aderir à portaria do Ministério da Saúde.
A portaria inclui alunos de medicina, enfermagem, farmácia e fisioterapia. Eles serão alocados em unidades básicas de saúde, unidades de pronto atendimento, rede hospitalar e comunidades.
A atuação deverá ser, exclusivamente, nas áreas de clínica médica, pediatria, saúde coletiva e apoio às famílias – de acordo com as especificidades de cada curso.
A carga horária será contada como estágio curricular obrigatório e considerada na pontuação para ingresso nos cursos de residência. Para participar da programa, é necessária a adesão de Estados, Distrito Federal e municípios.
Também precisam aderir os estabelecimentos de saúde privados sem fins lucrativos que prestam serviços no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS). A adesão será feita pelos gestores locais do SUS, via sistema eletrônico.
Veja a lista de quem pode fazer parte do programa:
Segundo o texto, a participação dos hospitais e institutos federais vinculados ao Ministério da Saúde e ao Ministério da Educação independe de adesão. "Cabe aos seus dirigentes indicar os profissionais de saúde e informar o quantitativo de alunos participantes", diz o documento.
Os participantes são previstos como alunos dos cursos de medicina, enfermagem, fisioterapia e farmácia com distinção entre:
Os alunos das hipóteses "A" e "B" terão as horas dedicadas à essa ação, compensadas como se estivessem no estágio curricular obrigatório (internato no caso da medicina) e terão a pontuação aumentada em 10% no processo de seleção de Residências.
Os alunos "C" não terão essas vantagens, mas poderão solicitar desconto caso cursem faculdades pagas.
A seleção será por edital de chamamento público a ser definido e divulgado pelo Ministério da Saúde. A portaria não menciona data para essa publicação nem maiores detalhes desse edital.
Notícia publicada no site G1, em 30/03/2020, no endereço eletrônico: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2020/03/30/estudantes-de-medicina-do-df-pedem-revogacao-de-portaria-que-preve-estagio-obrigatorio-contra-pandemia-de-coronavirus.ghtml