Psicólogo educacional lista fatores para aluno buscar motivação em meio às dificuldades atuais

G1 • 15 de junho de 2021

Fonte da Notícia: G1
Data da Publicação original: 14/06/2021
Publicado Originalmente em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/06/14/alunos-devem-assumir-maior-responsabilidade-por-aprendizagem-afirma-kevin-mcgrew-especialista-em-motivacao.ghtml

Os modelos tradicionais de educação, com o professor conduzindo o tema em sala de aula, foram colocados à prova com a imposição do ensino remoto trazida pela pandemia. Para o psicólogo norte-americano Kevin McGrew, que é especialista em motivação escolar, isso exigiu maior protagonismo do aluno na aprendizagem. Ela avalia que é preciso estimular e desenvolver a motivação na educação.

McGrew participa do Seminário Internacional sobre Motivação na Aprendizagem, promovido pelo Instituto Ayrton Senna, que ocorre nesta terça-feira (15), das 9h às 18h.

A inscrição é gratuita e a transmissão será on-line. O evento pretende apresentar dados de pesquisas recentes, debater ações e trocar experiências bem sucedidas.

Dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que 29% dos alunos têm baixo rendimento porque falta motivação, afirma Catarina Sette, especialista em educação integral do Instituto Ayrton Senna.

Sette afirma que a motivação pode ser desenvolvida em cada estudante e professor. "A motivação não é algo inato. É uma competência que se desenvolve e que podemos promover de forma intencional. É fundamental que cada estudante se autoconheça e aprenda estratégias para se manter motivado, identificando quando precisa de mais apoio ou de novas estratégias para seguir em frente", afirma.

O clima escolar, antes da pandemia, também não ajudava a manter a motivação em alta. Os casos de bullying, indisciplina e solidão dentro das escolas do Brasil ocorrem em percentuais acima da média internacional.

Para 29% dos estudantes brasileiros que participaram da avaliação, há ofensas nas escolas. Outros 41% dizem perder tempo de aula por causa da indisciplina e 13% relataram se sentir sempre sozinhos durante o período escolar.

Não é um interruptor mágico

Os dados poderiam ser diferentes se houvesse motivação, afirma McGrew. Para o pesquisador, é possível desenvolvê-la com base nos objetivos pessoais e individuais dos estudantes e professores.

De forma mais prática, é possível seguir os seguintes passos:

  • Identificação: o primeiro estágio é identificar crenças, interesses, valorese habilidades. A partir disso, se perguntar: O que eu gostaria de alcançar, e por que?
  • Planejamento: a partir da identificação do que eu gostaria de alcançar, é preciso definir ações e caminhos para atingir este objetivo.
  • Revisão: a ideia é parar para fazer uma autoavaliação para saber se alunos e professores estão atingindo os objetivos ou chegando a eles. A partir daí, é preciso ser maleável para redefinir
  • Mudança: caso a avaliação aponte que o objetivo não está sendo atingido, é preciso ser maleável para mudar os planos ou alterar a rota.

"[Motivação] Não é um interruptor mágico que pode ser ligado ou desligado", afirma McGrew. "Em um sentido geral, todos nós pensamos que sabemos o que é motivação. Mas é uma coleção complexa de processos cognitivos que ocorrem repetidamente em um ciclo fluido contínuo, com feedback, que pode mudar o plano de motivação à medida que está sendo implementado", diz.

"A Covid-19 acelerou uma mudança da educação da 'era industrial', em que alunos têm aprendizagem regulada por professores, para um modelo da 'era da informação', com intermediação da tecnologia na aprendizagem remota. Isso exige que os alunos se motivem e se envolvam em uma maior autorregulação de seu próprio aprendizado. Ou seja, os alunos agora devem assumir maior responsabilidade individual por seu aprendizado escolar", afirma McGrew, doutor em psicologia educacional e diretor do Instituto para Psicometria Aplicada, em entrevista ao G1.

"Na educação, é melhor focar na motivação da realização que, em termos simples, é a iniciação e direção de comportamento persistente, autossustentado e autorregulado em direção a um nível satisfatório de sucesso em metas de realização cognitivamente implícitas ou explícitas. Em termos simples, a motivação da competência de realização é a 'prontidão' do aluno para se envolver em uma aprendizagem motivada e autodirigida", explica.

Além de McGrew, os debates do evento desta terça também terão a presença de Ricardo Primi, doutor em psicologia escolar e do desenvolvimento humano pela USP/Yale, Jane Goodall, conservacionista, famosa pelos estudos pioneiros com chimpanzés, a modelo e empresária Gisele Bündchen, além de William Kamkwamba, o inventor que inspirou o filme “O menino que descobriu o vento”.

"Acredito que a pandemia trará uma mudança de prioridades educacionais para enfatizar não apenas o desempenho ou resultados acadêmicos, em leitura, matemática, e outras disciplinas, mas também o ensino formal explícito para os alunos desenvolverem aprendizagens autorreguladas mais independentes. A motivação positiva e a autorregulação podem se tornar tão ou mais importantes e valorizadas do que os resultados acadêmicos tradicionais", aposta o psicólogo educacional.


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