G1 • 19 de agosto de 2021
Fonte da Notícia: G1
Data da Publicação original: 19/08/2021
Publicado Originalmente em: https://g1.globo.com/educacao/noticia/2021/08/19/ministro-da-educacao-criancas-com-deficiencia-repercussao.ghtml
No Recife, Milton Ribeiro falou sobre educação de crianças com deficiência — Foto: Pedro Alves/G1
A fala do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, sobre crianças com deficiência tornarem "impossível a convivência" na sala de aula repercutiu negativamente entre autoridades da área da educação. A fala aconteceu nesta quinta-feira (19), quando tentou explicar uma fala anterior sobre a separação de salas de crianças com e sem deficiência.
"Nos temos hoje 1,3 milhão de crianças com deficiência que estudam nas escolas públicas. Desse total, 12% têm um grau de deficiência que é impossível a convivência. O que o nosso governo fez: em vez de simplesmente jogá-los dentro de uma sala de aula, pelo 'inclusivismo', nós estamos criando salas especiais para que essas crianças possam receber o tratamento que merecem e precisam", afirmou Ribeiro.
O ministro da Educação não informou como chegou aos 12%. Em 2020, segundo o Censo, o Brasil tinha 1,3 milhão de crianças e jovens com deficiência na educação básica. Desses,
Em 2005, o total de pessoas com deficiência matriculadas era bem menor (492.908). Além disso, a maioria delas (77%) permanecia em espaços exclusivos para alunos com necessidades educativas especiais - apenas 23% eram incluídas nas salas regulares.
Para o presidente do Instituto Rodrigo Mendes, Rodrigo Hübner Mendes, as falas do ministro demonstra que ele não está à altura do cargo. "Pensar e afirmar que alguma criança do planeta é de convívio impossível revela uma profunda intolerância e ignorância técnica sobre o tema. Não tem mais como tentar consertar. Deveria dar a oportunidade para outra pessoa assumir essa estratégica posição para o país", disse.
O deputado federal Professor Israel Batista (PV-DF), presidente da Frente Parlamentar Mista da Educação, se indignou com o que foi dito por Ribeiro. "Esse tipo de pensamento, que considera que uma pessoa com deficiência atrapalha os outros é perigoso, coloca uma mentalidade nociva ao nosso País e que não pode prevalecer", afirmou.
Ele ainda citou o Estatuto da Pessoa com Deficiência, de 2016, que garante a participação social e a igualdade de oportunidade e prevê a obrigatoriedade do atendimento especial a pessoas com deficiência nas escolas. "A escola não tem papel de segregar, mas de incluir. Como professor, digo que pessoas com deficiência são uma oportunidade para que estudantes aprendam a lidar com as diferenças, valores como a solidariedade, que é um valor que este governo não reconhece, e sobre a necessidade da ação comunitária e coletiva. O ministro deveria estar preocupado em preparar as escolas para um atendimento adequado, isso sim", completou.
Andréa Werner, criadora do Instituto Lagarta Vira Pupa
A criadora do Instituto Lagarta Vira Pupa, Andréa Werner, afirmou em uma rede social que o ministro piorou uma fala com outra e publicou um vídeo que rebate a fala de Ribeiro.
Maria do Rosário, deputada federal
A deputada federal Maria do Rosário (PT) também se manifestou contra a fala do ministro. "Quando ele fala em 'criar salas especiais' está falando em exclusão! ", afirmou.
Fábio Feliz, deputado distrital
Deputado distrital do Distrito Federal pelo PSOL DF, Fábio Felix, disse que Ribeiro "pegou a teoria do inclusivismo, que é de acolhimento e estímulo, para dizer que isso atrapalha o desenvolvimento de demais estudantes. É podre o retrocesso da exclusão!".