'País que não investe em ciência está fadado ao retrocesso', diz professora da UFRGS em lista de 100 cientistas analíticos mais influentes do mundo

G1 • 19 de outubro de 2021

Fonte da Notícia: G1
Data da Publicação original: 18/10/2021
Publicado Originalmente em: https://g1.globo.com/rs/rio-grande-do-sul/noticia/2021/10/18/pais-que-nao-investe-em-ciencia-esta-fadado-ao-retrocesso-diz-professora-da-ufrgs-em-lista-de-100-cientistas-analiticos-mais-influentes-do-mundo.ghtml

Imagem: G1

A professora Claudia Alcaraz Zini, do Instituto de Química da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), compõe, pelo segundo ano consecutivo, a lista dos 100 cientistas analíticos mais influentes do mundo, segundo o The Analytical Scientist. O rol, divulgado no dia 12 de outubro, celebra a 100ª edição este ano.

"O Brasil tem uma tradição de pesquisa que foi cultivada ao longo de décadas. Não podemos perder isto. Um país que não investe em ciência e tecnologia está fadado ao retrocesso, à subserviência", destaca.

Além de Claudia, Francisco Radler de Aquino Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, e Norberto Peporine Lopes, da Universidade de São Paulo, também estão na lista.

O reconhecimento internacional, para ela, é motivo de gratidão a professores, pesquisadores, alunos e familiares que colaboraram com o trabalho científico. Ao mesmo tempo, é uma motivação a quem está inserido ou deseja ingressar na área acadêmica.

"Sem a colaboração deles, não teria sido incluída na lista do The Analytical Scientist do ano passado e deste. O trabalho de um pesquisador engloba o esforço de equipe, no qual muitos outros estão incluídos", cita.

A listagem contempla pesquisadores de dezenas de países e observa não apenas o ano anterior, mas uma carreira inteira. Claudia foi citada nos dois anos de pandemia. Porém, ela cita que, mais do que o coronavírus, os recentes cortes impostos à pesquisa científica brasileira é o maior inimigo do pesquisador.

"Alunos e pesquisadores, quando têm base suficiente de infraestrutura e recursos para fazer suas pesquisas, conseguem avançar, apesar da pandemia. Claro que a pandemia, em alguma medida, afeta o andamento dos trabalhos, mas menos do que a falta de recursos. Não se tem recursos para questões básicas, como conserto de piso do laboratório, telhado etc. Quanto mais recursos para compra de equipamentos caros, os quais são essenciais para a realização de pesquisas de ponta. É necessário rever nossas políticas no que tange à ciência e tecnologia em todas as áreas do conhecimento", reivindica.

Uma das possibilidades citadas por ela é a ampliação dos financiamentos privados e revisar a relação do setor com as universidades.

"O empresário brasileiro não tem a cultura de investir em pesquisa. Precisam ser estimulados a fazer isto através de incentivos, inicialmente, para então compreenderem melhor, na prática, qual é a importância de investirem em pesquisa. Tanto alunos, como pesquisadores e professores precisam ser incentivados à carreira científica e tecnológica para que nosso país possa avançar nestas áreas", afirma.

Outra questão é a difusão do conhecimento. Sobre isto, Claudia recorda de um conselho de uma antiga professora, no final dos anos 1990, de que todos os jovens cientistas devem visar desenvolver seus trabalhos em conjunto com pesquisadores estrangeiros.

"Primeiro porque na ciência e na tecnologia não existem fronteiras. É importantíssimo saber o que acontece em outras partes do mundo e não se isolar no seu próprio país, pois nesta troca de informações e experiências se progride muito em pesquisa científica. Outro aspecto é que é bem mais difícil ser reconhecido dentro do nosso país do que fora do mesmo. Existe muita competição no meio acadêmico. Vários colegas acham que esta competição é saudável, pois seria um agente de estímulo ao desenvolvimento profissional. Eu não penso assim. A colaboração é o que há de mais saudável nas relações humanas e esta deveria predominar na academia", enfatiza.

Claudia desenvolveu a carreira toda na UFRGS, partindo da graduação, nos anos 1980, ao doutorado em 2002. Atualmente trabalha com temas como técnicas de extração e separação e química analítica ambiental e ecológica. Dentre os principais de estudos estão desde vinhos, sucos de frutas e alimentos em geral às plantas, óleos essenciais, bio-óleo, alcatrão, petróleo, carvão e betume.


Restrito - Copyright © Abrafi - Todos os direitos reservados