Desafios para as IES em 2026

REVISTA ENSINO SUPERIOR • 28 de agosto de 2025

Fonte da Notícia: REVISTA ENSINO SUPERIOR
Data da Publicação original: 21/08/2025
Publicado Originalmente em: https://revistaensinosuperior.com.br/2025/08/21/desafios-para-as-ies-em-2026/

Por Jeferson Vinhas*

O ano de 2026 se aproxima como mais um ponto de inflexão para o ensino superior brasileiro. De um lado, um ambiente macroeconômico que sinaliza crescimento moderado, taxas de juros ainda elevadas e pressões fiscais persistentes. De outro, mudanças regulatórias de grande impacto — em especial no ensino a distância (EAD) e nos processos de avaliação. Para as IES, a equação financeira se torna mais complexa: captar novos alunos será mais difícil, reter estudantes exigirá investimentos crescentes em qualidade e tecnologia, e a adaptação às regras do Ministério da Educação imporá custos adicionais.

  1. Crescimento moderado, juros altos e crédito restrito

Relatórios das principais firmas globais de auditoria e consultoria (PwC, Deloitte, EY e KPMG) projetam para 2026 um cenário econômico internacional marcado pela combinação de desaceleração da China, políticas monetárias mais cautelosas nos EUA e Europa e pressões vindas da transição energética e digital. O resultado é um ambiente de baixo crescimento e maior seletividade nos investimentos.

No Brasil, o crescimento esperado gira em torno de 2% a 2,5%, sustentado principalmente pelo consumo das famílias e por projetos de infraestrutura financiados pelo Estado e bancos públicos. No entanto, a vulnerabilidade fiscal e a trajetória da dívida pública seguem como pontos de alerta.

A inflação deve se manter próxima da meta, mas com núcleos ainda pressionados — especialmente em serviços. A taxa básica de juros, mesmo em queda em relação ao pico de 2023–2024, continuará elevada em termos reais. Isso significa crédito mais caro para as famílias e para as empresas, restringindo o consumo e os investimentos privados.

Para o setor educacional, o impacto é direto:

  • Custo de capital: financiamento de novas operações, abertura de polos ou modernização tecnológica seguirá caro.
  • Renda disponível das famílias: salários crescem em ritmo mais lento que o custo de vida, comprimindo a disposição a investir em mensalidades de longo prazo.
  • Mercado de capitais seletivo: investidores institucionais manterão cautela diante do risco regulatório do setor.

  1. Inadimplência, custos e competição acirrada

As condições macroeconômicas pressionam diretamente a sustentabilidade das IES. Entre os principais efeitos esperados:

  • Captação mais difícil: famílias mais cautelosas adiam decisões de ingresso, o que exige maior investimento em marketing e diferenciação de oferta.
  • Inadimplência em alta: mesmo com inflação sob controle, a combinação de crédito restrito e empregos menos estáveis eleva o risco de atraso ou evasão, especialmente entre estudantes de menor renda.
  • EAD sob pressão competitiva: embora continue crescendo, a modalidade já apresenta sinais de saturação, com guerra de preços e concentração em grandes grupos. A diferenciação passará a depender da qualidade da experiência acadêmica e da empregabilidade do egresso.
  • Custos crescentes: tecnologia, infraestrutura digital, ESG e compliance demandam investimentos contínuos, comprimindo margens em um setor já pressionado.
  • Novos modelos de financiamento estudantil: cresce o debate sobre parcerias com fintechs, créditos privados e modelos de “income share agreements” como alternativas ao FIES.

Esse conjunto de fatores reforça a necessidade de rigor na gestão do capital de giro, otimização de receitas e despesas e maior integração entre planejamento acadêmico e financeiro.

  1. EAD e avaliação sob novas regras

Se o cenário econômico impõe restrições, o ambiente regulatório traz mudanças estruturais. Em 2026, dois pontos devem estar no centro da agenda das IES:

  • Novo marco regulatório do EAD: o Ministério da Educação sinaliza maior rigor nas condições de oferta da modalidade. Entre os temas em discussão estão limites de polos, obrigatoriedade de presencialidade mínima em determinados cursos, exigências de infraestrutura física e digital e padrões de tutoria mais robustos. Para as instituições, isso significa maior custo por aluno e menor possibilidade de escalar operações apenas pela lógica de volume. Modelos de negócios baseados em margens muito estreitas precisarão ser revistos.
  • Reformulação das regras de avaliação (Sinaes): a revisão do sistema de avaliação da educação superior prevê mais rigor nos indicadores de qualidade, com ênfase em desempenho acadêmico, empregabilidade dos egressos, inovação pedagógica e sustentabilidade institucional. Além de maior detalhamento nos critérios, espera-se que o processo seja mais frequente e transparente, aumentando a pressão por evidências concretas de qualidade. As consequências são relevantes: instituições com desempenho insuficiente podem ter limitações em credenciamento, dificuldades em abrir novos cursos ou polos, além de perda de atratividade junto aos estudantes.

Essas mudanças regulatórias impõem às IES um desafio adicional: investir em compliance acadêmico, governança regulatória e sistemas de monitoramento de indicadores. Tais investimentos, embora estratégicos, elevam os custos de curto prazo e exigem um redesenho do planejamento financeiro.

  1. Novos modelos acadêmicos e fontes de receita

Se, por um lado, as IES enfrentam restrições econômicas e regulatórias, por outro, o cenário abre espaço para um movimento estratégico: a busca ativa por inovação. Mais do que uma escolha, inovar se torna condição de sobrevivência.

Entre os caminhos possíveis estão:

  • Modelos acadêmicos diferenciados: currículos mais flexíveis, metodologias ativas, ensino híbrido de alta qualidade e maior integração com o mercado de trabalho. A proposta de valor precisa ir além do diploma, incorporando empregabilidade e networking.
  • Novos produtos educacionais: microcertificações, cursos livres, formações executivas, educação corporativa e trilhas de aprendizagem contínua que diversificam receitas e aproximam a IES de diferentes públicos.
  • Fundos de investimento e venture capital: algumas universidades no mundo já criam seus próprios fundos para investir em startups e spin-offs de alunos e professores, gerando retorno financeiro e posicionando-se como hubs de inovação.
  • Verticalização de serviços: ao incorporar clínicas, laboratórios, escritórios-modelo ou incubadoras, as IES criam ecossistemas próprios que geram receita, reduzem custos operacionais de cursos e fortalecem a integração ensino-pesquisa-extensão.

A inovação, portanto, não é apenas um diferencial competitivo, mas um mecanismo de diversificação de riscos e sustentabilidade financeira de longo prazo.

Estratégia financeira como diferencial competitivo

As IES brasileiras entrarão em 2026 em um campo de forças complexo, marcado por três vetores centrais: um ambiente macroeconômico restritivo, uma pressão crescente por eficiência operacional e um novo marco regulatório mais rigoroso.

Nesse contexto, instituições que aliarem planejamento financeiro, gestão de capital de giro, adequação regulatória e inovação em modelos de negócio terão mais chances de transformar desafios em oportunidades. A estratégia não poderá se limitar ao controle de custos: será preciso inovar em financiamento estudantil, diferenciar produtos acadêmicos, criar novas fontes de receita e se posicionar como atores relevantes nos ecossistemas de inovação.

A gestão financeira robusta deixa de ser apenas suporte administrativo e se torna, cada vez mais, o verdadeiro diferencial competitivo para garantir crescimento sustentável e relevância institucional para 2026 — e além.

Jeferson Vinhas é CEO do Grupo Integrado


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