Por Paulo Chanan "Meu amigo Carbonari: um mestre da vida e da educação"

ABRAFI • 17 de novembro de 2025

Fonte da Notícia: ABRAFI
Data da Publicação original: 17/11/2025
Publicado Originalmente em: https://www.abrafi.org.br/

*Por Paulo Chanan

Quando nos encontramos pela primeira vez, no final de 2004, tive a convicção de que nasceria dali algo maior do que uma parceria nos negócios ou na esfera representativa do setor privado de educação superior. Conheci Antônio Carbonari Netto quando ele e Janguiê Diniz lideravam o movimento de fundação da ABRAFI, missão que nos uniu e mudaria o rumo de nossas vidas dali em diante.

Quando, em 2005, lançamos a Associação, o cenário era muito diferente do atual. Éramos todos pequenos, embora a Anhanguera Educacional, instituição do Carbonari, estivesse um patamar acima em quantidade de alunos matriculados. A Faculdade Maurício de Nassau, semente do que viria a se tornar o grupo Ser Educacional, instituição do Janguiê, estava no começo de suas atividades; enquanto eu dirigia uma pequena instituição no Paraná.

Apesar das distâncias (um em cada região do país) e das diferenças iniciais, a proximidade pessoal começou a se forjar. Mensalmente nos encontrávamos em Brasília, partilhando encontros no famoso Churchil, no saguão do hotel Meliá, criando alianças discretas nos bastidores, aprendendo juntos. Em todas essas ocasiões, percebi que Carbonari era, antes de tudo, um grande entusiasta do poder transformador da educação e um mestre dos negócios. Visionário e detentor de uma inteligência rara, ele contratava grupos de professores para pensar, inovar, reinventar o modelo educacional vigente na Anhanguera, e muitas dessas inovações ele dividia com a gente, dando insights para que fizéssemos também em nossas instituições. Ele não apenas administrava o próprio negócio, mas ensinava, inspirava e provocava.

Anos mais tarde, quando a Anhanguera iniciou seu percurso rumo à abertura de capital na B3 (a bolsa de valores brasileira), um processo impensável para o setor até então, pude acompanhar de perto a sua ousadia: roadshows internacionais, visitas a fundos de pensão, decisões que, em pouco tempo, multiplicaram os alunos de milhares para centenas de milhares. Estava ali a consolidação do seu propósito de vida, muito baseado na sua formação franciscana: romper com o cenário elitizado e abrir as portas da educação superior para parcelas da população que sequer podiam sonhar com um diploma universitário.

Naquele momento, Janguiê e eu éramos mais do que dirigentes da ABRAFI ao lado do Carbonari. Éramos também aprendizes atentos ao que ele fazia - e como fazia. Conversas informais viravam verdadeiros laboratórios de ideias. Com seu magnetismo e eloquência, nas reuniões da ABRAFI ele ouvia, pontuava, explicava. E, assim, nasceu não apenas uma associação representativa, mas uma cultura de transformação da educação superior.

Para o Brasil, Carbonari representa um divisor de águas. Ele foi um visionário e peça-chave para a educação superior privada. Esteve sempre à frente do seu tempo. Foi ele quem primeiro compreendeu e trabalhou arduamente para que o diploma fosse instrumento de mobilidade, cidadania e justiça social. Lutou como ninguém pelo ProUni; aliás, muitos dizem que o programa só existe por conta da sua luta. A fundação da Anhanguera, que após a fusão com a Kroton se transformou na maior empresa de educação superior do mundo, e, posteriormente, a fundação da MUST University, nos Estados Unidos, simbolizam mais do que crescimento institucional: significam o sonho persistente de levar educação de qualidade a quem dela muitas vezes era excluído.

Minha relação com ele foi muito além da convenção de reuniões e decisões estratégicas. Construímos uma amizade rara, feita de confiança, trocas, silêncios e risadas. Nos encontros, falávamos de governança institucional e de competição, mas também de família, de momento de vida, de futuro.

Nos últimos anos, mesmo com dificuldade de mobilidade por questões de saúde, fazia questão de se fazer presente. Fosse nas reuniões virtuais da ABRAFI, fosse em eventos do setor, fosse em reuniões estratégicas, Carbonari era um nome com o qual se podia contar. Ele sabia que liderança exige presença, vulnerabilidade e humanidade. Estar ao lado dele era aprender que empreendedorismo em educação não é apenas expansão: é compromisso com o outro.

Na esfera pessoal, uma grande prova de amizade e consideração foi sua presença no meu casamento, em fevereiro deste ano, no Recife. Sei bem o quanto ele se esforçou para estar ali conosco naquele momento de celebração, e nunca terei palavras suficientes para agradecê-lo.

Nosso último encontro presencial aconteceu por ocasião de uma reunião em São Paulo, três dias antes da sua última internação. Como sempre, apresentou ideias, trouxe preocupações com os negócios e contribuiu, sobremaneira, com o encaminhamento da reunião. Nos dias subsequentes, enquanto ele lutava bravamente contra a enfermidade, eu mantinha contato com sua esposa e sua filha, recebendo atualizações sobre seu estado de saúde e compartilhando esperanças de uma pronta recuperação, mas Deus já havia feito outros planos.

Em meio à dor da perda, escolho celebrar a jornada de Carbonari: o jovem matemático, o professor que contratava mentes para inovar, o mantenedor visionário, o amigo de encontros inesquecíveis e conselhos valiosos. Ele nos ensinou a todos que educar é, antes de tudo, construir o futuro. E que esse futuro exige propósito, coragem e comunidade.

Hoje, ao olhar para a trajetória da educação superior privada, reconheço o traço dele em muitas práticas, muitas alianças e muitos sonhos em curso. O Brasil lhe deve gratidão; eu lhe devo amizade. Que o legado de Antônio Carbonari Netto siga iluminando os caminhos da educação superior e inspirando os que acreditam que ensinar transforma.


Restrito - Copyright © Abrafi - Todos os direitos reservados